terça-feira, 19 de abril de 2011

Será este o cantinho das declarações? Não... mas abro espaço...


O Nosso Livro


Livro do meu amor, do teu amor,

Livro do nosso amor, do nosso peito...

Abre-lhe as folhas devagar, com jeito,

Como se fossem pétalas de flor.

Olha que eu outro já não sei compor

Mais santamente triste, mais perfeito

Não esfolhes os lírios com que é feito

Que outros não tenho em meu jardim de dor!

Livro de mais ninguém!

Só meu! Só teu!

Num sorriso tu dizes e digo eu:

Versos só nossos mas que lindos sois!

Ah, meu Amor!

Mas quanta, quanta gente

Dirá, fechando o livro docemente:

"Versos só nossos, só de nós os dois!..."


Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"

...

Era para ser apenas meu cantinho, ou a continuação daquelas coleções de poemas, imagens e músicas, que na adolescência fazíamos em nossos "cadernos de recordações", guardados no fundo do baú para não serem violados por pais curiosos e irmãos zombeteiros.


Nem sei quando começou a ser espaço de íntimas revelações... Daquelas da nossa face oculta, que por muito tempo na vida, passamos a esconder até mesmo de nós.


Agora... nem sei mais. Vai ganhando outras formas...

sábado, 9 de abril de 2011

A viagem do “Eu” no “Novo Mundo”

Depois de um ano aventurando/me pelas possibilidades de novas descobertas sobre o mundo e a própria vida, hoje sinto a necessidade de reflexões mais serenas e conscientes.

Com pausa nas lamúrias imaturas, por não ter todos os meus desejos atendidos como por encanto, é à hora de ver o saldo positivo do aprendizado deste caminho desconhecido, até aqui trilhado. Graças à iniciativa de evitar o medo no processo de sociabilização, valiosos foram os exercícios praticados.

Algumas impressões errôneas foram desfeitas, apesar da profunda tristeza sentida pela injustiça do comportamento equivocado, que não sai da prática de corações endurecidos. Que sejam evitadas novas generalizações precipitadas.

Uma grande quantidade de preconceito foi quebrada, apesar da amarga decepção sentida pela dureza da estupidez humana, que não abandona seres ignorantes. Que sejam evitadas novas classificações sem conhecimento.

É prazeroso contemplar o lindo desnudar da própria natureza. Aqui a viagem é difícil, mas a paisagem que surge, é muito mais bonita. A grande floresta escura e insondável do “Eu”, começou a ser cuidadosamente percorrida, com o avanço em reconhecer/me também no “outro”.

Meu universo interior ganhou novos espaços com lindas clareiras, onde hoje paro para descansar, enquanto aprecio as flores que brotam com a luz, que ali se faz presente. Que sejam contínuos os esforços do desbravar.

O caminho que falta para percorrer ainda será muito longo. Provavelmente nunca termine. Que assim seja.

Os próximos desafios serão enormes, mas a satisfação de ter avançado sobre as limitações é um grande tesouro conquistado. Que seja sempre visto como a mais doce e valiosa recompensa.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Revendo o sentido da "coisa irrespondida"


"Pergunto-te onde se acha a minha vida.

Em que dia fui eu. Que hora existiu

formada de uma verdade minha bem possuída

Vão-se as minhas perguntas aos depósitos do nada.

E a quem é que pergunto? Em quem penso,

iludida por esperanças hereditárias?

E de cada pergunta minha vai nascendo a sombra imensa

que envolve a posição dos olhos de quem pensa.

Já não sei mais a diferença de ti,

de mim, da coisa perguntada,

do silêncio da coisa irrespondida”.


. Cecilia Meireles .

domingo, 3 de abril de 2011

Agradeço pela paciência de reinventar/me constantemente

"Ele não sabe mais nada sobre mim. Não sabe que o aperto no meu peito diminuiu, que meu cabelo cresceu, que os meus olhos estão menos melancólicos, mas que tenho estado quieta, calada, concentrada numa vida prática e sem aquela necessidade toda de ser amada.


Ele não sabe quantos livros puder ler em algumas semanas. Não sabe quais são meus novos assuntos nem os filmes favoritos.


Ele não sabe que a cada dia eu penso menos nele, mas que conservo alguma curiosidade em saber se o seu coração está mais tranqüilo, se seu cabelo mudou, se o seu olhar continua inquieto. Ele nem imagina quanta coisa pude planejar durante esses dias todos e como me isolei pra tentar organizar todos os meus projetos.


Ele não sabe quantos amigos desapareceram desde que me desvencilhei da minha vida social intensa. Que tenho sentido mais sono e ainda assim, dormido pouco. Que tenho escrito mais no meu caderno de sonhos. Que aqui faz tanto frio, ele não sabe por mim.


Ele não sabe que eu nunca mais me atentei pra saudade. Que simplesmente deixei de pensar em tudo que me parecia instável. Que aprendi a não sobrecarregar meu coração, este órgão tão nobre.


Ele não sabe que eu entendi que se eu resolver a minha dor, ainda assim, poderei criar através da dor alheia sem precisar sofrer junto pra conceber um poema de cura. Hoje foi um dia em que percebi quanta coisa em mim mudou e ele não sabe sobre nada disso.


Ele não sabe que tenho estado tão só sem a devastadora sensação de me sentir sozinha.


Ele não sabe que desde que não compartilhamos mais nada sobre nós, eu tive que me tornar minha melhor companhia: ele nem imagina que foi ele quem me ensinou esta alegria."


(Marla de Queiroz)